O YUAN, segunda moeda de comércio internacional

Oscar Ugarteche
06.Mar.15 :: Outros autores

ALAI AMLATINA, 02/03/2015.- O comércio internacional no mundo opera através de crédito documentario**. Historicamente as moedas líderes das cartas de crédito foram o dólar, o euro e o iene; e o yuan esteve em quarto lugar até Janeiro de 2012 altura em que começou a mover-se para cima, desalojando primeiro o iene e depois o Euro como a segunda moeda na qual se confirmam mais cartas de crédito. O auge do yuan está longe de ser una ameaça para o dólar mas foi-o para o iene e o euro, que verão maior volume da moeda chinesa no futuro comercio asiático. Em Janeiro do ano 2012, os créditos documentários em yuans pesavam 1.89% do total emitido medido em valor. Os ienes pesavam 1.94% e os euros 7.87%. A moeda líder, o dólar, pesava 84.96%. Três anos mais tarde a descida do dólar para 79.23% teve como contrapartida o aumento do comércio internacional em créditos em yuans para 9.43%, desalojando o Euro que baixou para 6.74% e o iene que desceu para 1,55% do total do valor de créditos documentários.
O que é significativo neste auge é a velocidade com que passou de 1.89% a 9.43% do total de crédito de comércio no mundo. Em apenas três anos a participação do comercio com crédito em yuans quadruplicou ao mesmo tempo que esta moeda se valorizou 10% em relação ao dólar. Quer dizer que cresce o valor do yuan no mercado internacional em dólares e crescem as transacções de comércio internacional efectuadas nesta moeda. Isto é sem dúvida uma forma de poupar nas transacções comerciais com a China e sobretudo de poupar face à volatilidade do dólar em relação ao yuan. Curiosamente, a valorização do dólar no período iniciado em Junho de 2014 não se reflectiu numa desvalorização do yuan.
O uso del yuan no mercado cambial já se tinha visto fortalecido por acordos diversos de pagamentos de petróleo e pela introdução do yuan no mercado cambial de Londres e nos écrans da Reuters. O referido processo acentuou-se com os acordos com a Rússia para compra de gás, substituindo o mercado europeu, e pagáveis em yuans em vez de euros, o que reduz o peso de uma moeda e faz crescer o da outra. E, finalmente, pelas expectativas de que o crescente comercio com a América Latina se desloque igualmente no sentido da utilização das cartas de crédito em yuans. É possível que o comercio da nova União Euroasiática com a China se faça integralmente em yuans, enquanto o comercio dentro da UEA se fará em rublos.
O SWIFT, o mecanismo internacional de pagamentos, promove desde o ano 2010 a utilização do reminbi como divisa e disponibiliza informação sobre isso e sobre el mercado cambial. Para o SWIFT a definição de divisa é igual à do FMI. Considera-se tipicamente “internacional” uma moeda quando é utilizada como unidade de conta (por exemplo para facturar), como meio de pagamento (para compensar o comércio transfronteiriço) e como depósito de valor (depósitos, moeda de reserva). Segundo este intermediário financeiro, o reminbi ou yuan está subutilizado no comércio internacional. Em Junho de 2011, a China detinha 11.4% do comércio mundial mas somente 0.24% dos pagamentos eram efectuados na referida moeda. A situação mudou drasticamente, tendo subido para 9.43%, mas isso deve-se a que o comércio intra-regional entre China, Hong Kong, Macau, Singapura e Taiwan se efectua integralmente nesta moeda. O outro grande comércio com Estados Unidos, Europa e América latina continua a efectuar-se em dólares ou euros. O comercio dentro do resto del mundo não se efectua em yuans, embora comece a ser feito em euros.
No ano de 2011, o peso do reminbi no mercado cambial internacional era de 0.9%, enquanto o peso do PIB chinês era de 11% do PIB mundial. Em Janeiro do ano de 2015, o PIB chinês pesa 17% do PIB mundial e é maior do que o PIB dos Estados Unidos, segundo o Financial Times (http://blogs.ft.com/ftdata/2014/10/08/chinas-leap-forward-overtaking-the-us-as-worlds-biggest-economy/), mas a sua moeda somente pesa 2.06% do mercado cambial.
A China entrou na dinâmica de fazer valer a sua moeda e tem o suporte do mercado financeiro internacional que vê nela a moeda do futuro por estar sub-representada, tanto no seu uso no comércio, como no seu uso como moeda de reserva. Os novos convénios com a Rússia tal como o esforço para intensificar a sua relação económica com o resto do mundo na sua própria moeda apontam nessa direcção. O desafio para a China será se pode superar o peso simbólico do dólar (“um dólar é um dólar”) e a forma como vai enfrentar a sua valorização face à alta da taxa de juro da referida moeda. Se se desvaloriza, como todo o resto das moedas do mundo, não será bom sinal. Se se mantem ou se continua a valorizar-se, será alvo da crítica americana, mas indicará que prossegue a trajectória de fortalecimento no sistema internacional. Ser a primeira economia do mundo, com as reservas internacionais maiores do mundo e a taxa de crescimento mais alta do mundo, mas não ter a primeira moeda do mundo é um sinal de debilidade sistémica. É a segunda moeda do mundo, mas é oito vezes menos importante que a primeira no comércio internacional.
Clearstream antecipa que o mercado de capitais da China se abrirá completamente em 2020, o que definirá o reminbi como moeda de reserva plena.
– Oscar Ugarteche, economista peruano, é Coordenador do Observatório Económico da América Latina (OBELA), Instituto de Investigações Económicas da UNAM, México – http://www.obela.org. Membro do SNI/Conacyt e presidente de ALAI http://www.alainet.org
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**- Os créditos documentários são uma forma de garantia para os intervenientes directos (comprador e vendedor) numa transacção comercial de determinada mercadoria. São utilizados sobretudo a nível das transacções internacionais, na medida em que o grau de conhecimento entre os referidos intervenientes é por norma menor e, portanto, o risco será maior.
A utilização dos créditos documentários implica normalmente, para além do comprador e do vendedor, a intervenção de duas entidades bancárias: o banco emitente do crédito, que atua em nome do comprador, e um banco representante do banco emitente (normalmente designado banco notificador) junto do vendedor, dado que comprador e vendedor poderão estar em
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